É muito difícil julgar O
céu dos suicidas.
A literatura tem algo de sagrado quando toca o cerne da
experiência humana.
Acredito que Ricardo Lísias tocou nesse sagrado.
A história é contada por “um certo” Ricardo Lísias,
historiador e especialista em coleções, que passa por um momento bastante
conturbado. Vive imerso na dor provocada pelo suicídio do amigo André – e é a
partir dessa dor que ele olha para sua vida, seu trabalho, sua família e para o
mundo, e claro que tudo fica fora de foco.
Não é exatamente isso,
embora possa ser sim: “Ricardo” está em uma odisseia. Ele busca saber para onde
foi o amigo. E é aqui que ele toca algo que não tem nome. Nós não sabemos e
nunca saberemos para onde vão os suicidas.
Durante sua busca por respostas – que na verdade é uma busca
por consolo – ele encontra brutalidade, violência e intolerância nas respostas.
Todas as religiões condenam os suicidas, são pecadores, atentaram contra ao
direito sagrado da vida, são covardes e vão diretamente para o inferno – ou a
variação do inferno, dependendo do humor de cada religião. E quando ele diz:
“Os suicidas sofrem, Deus desgraçado”, não há como seu coração não tocar, por
um segundo, nessa dor.
O que “Ricardo” quer é que seu amigo vá para o céu. Daqui,
de onde ele está, vivo e impotente, sua busca é para que as pessoas concedam o
céu a André.
Nesse ponto é uma narrativa forte, intensa e verdadeira.
Mas a narrativa destoa em outros momentos. Acho que o autor
regeu a orquestra sem dar atenção suficiente aos instrumentos de fundo e, aos
meus ouvidos, algumas notas soaram desafinadas e soltas. A família, as pessoas
que ele encontra e os movimentos de “Ricardo”, destoam muito da força narrativa
de outras partes do livro. As mudanças bruscas de humor de “Ricardo” soaram fáceis
e forçadas e não me convenceram. E nos momentos de humor, eu não ri.
Então, eu não gostei disso e não gostei daquilo, mas não
posso dizer que o texto não tem força, que não mexeu comigo, e que não toca de
forma contundente em um ponto nevrálgico da condição humana.
Esse livro está na minha meta desde 2013, mas o emocional não me permitiu, vamos ver agora em 2014...
ResponderExcluirXerinhos, lindeza!!
É duro mesmo, Paty. Espero que você goste.
ExcluirDepois me conta,
beijo grande!
Apesar de concordar que às vezes a mudança de humor parecia exagerada demais, diria até artificial, eu gostei muito do livro no geral.
ResponderExcluirAchei a narrativa muito boa, um ritmo constante e essa indagação sobre o céu/inferno muito válida, afinal de contas quem não se questionou nesse sentido?
Um beijo!
Renata, o ponto alto para mim foi essa questão céu/inferno. É muito forte e ele constrói o texto com maestria nesse sentido.
ExcluirOutro beijo!
Eu gostei muito desse livro Maira, mais do que Divórcio. Esse tema mexe muito comigo e a forma como ele narrou foi muito visceral, tinham alguns trechos que eu sentia o soco no estômago junto com ele. Eu entendo o que você falou, mas acho que justamente por isso ficou tão forte, dava pra sentir a explosão de raiva dele!
ResponderExcluirAdorei o texto Maira:D
Beijo!
Entendo seu ponto, Tati. Mas, não se engane, eu gostei muito do livro, viu?
ExcluirBeijão!
Nem preciso comentar que estou curiosa para ler “O Céu dos Suicidas”. Tenho “O Livro dos Mandarins”, mas quero começar Ricardo Lísias por “Suicidas”. Enfim, imagino a dureza que deve ser a narrativa =/. Beijos, Maira!
ResponderExcluirÉ dureza, Lulu. Lê e depois me conta, quero saber o que você vai sentir/achar!
Excluirbeijo grande,
A temática é mesmo muito forte e a polêmica em torno do assunto não é de agora. Preciso me preparar para ler esse livro. Ótima resenha! Parabéns!
ResponderExcluirEsse é o tipo de tema universal, Raquel. Prepare-se então, rs.
Excluirbjs!
Oi Maira!
ResponderExcluirA sensação que eu tive lendo o livro foi mais ou menos essa que você teve: ele pegou um tema delicadíssimo e muito difícil, mas o livro em si não me empolgou, achei que ficou confessional demais e em termos literários não foi muito além disso. Talvez eu não tenha nada tão ligado ao tema para ter sentido mais forte a questão.
Mas não é um livro necessariamente ruim e não é um livro que nos deixa indiferentes.
O que eu acho curioso é que essa coisa de nem sabermos pra onde vamos depois da morte, se o céu existe ou não, mas não querermos que os suicidas sejam privados dele, caso ele exista.
Beijo ;)
Pois é, Camila. Não sei, para mim essa parte do suicídio é bem forte e ele consegue atingir o que se propõem, meu problema foi com os outros elementos da narrativa.
ExcluirMas é um livro inesquecível.
Beijo grande,
Não li O Céu dos Suicidas, mas li Divórcio, onde ele tenta simular a loucura que viveu em virtude do trauma. O livro tem boas sacadas, mas não achei sensacional. Li muitos elogios a respeito da obra dele e fui com muita sede ao pote. Só que acabei achando apenas OK. Como você comentou na resenha, alguns momentos soam muito fáceis, certos recursos um tanto capengas. Mesmo a questão do jogo com o real, a autoficção, ele não conseguiu manejar de forma muito original. Acho que não lerei o escritor novamente tão cedo, rsrs. Abraço!
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