sábado, 19 de outubro de 2013

The Spirit, Will Eisner



Comecei a ler a biografia do Will Eisner semana passada e procurei algumas coisas dele para conhecer. O primeiro, claro, precisava ser The Spirit, o grande personagem de Eisner, que surge em 1940 num formato inovador: suplemento, de 16 páginas, a ser inserido nos jornais de domingo. As histórias em quadrinhos impulsionavam a venda de jornais e Busy Arnold e Henry Martin, empresários que contrataram Eisner para a tarefa, acreditaram que o suplemento responderia a demanda de conteúdo inédito, de qualidade e em formato durável para que leitores pudessem colecionar e reler quando quisessem. O suplemento foi bem recebido garantindo que mais jornais assinassem o Weekly Comic Book [Revista em Quadrinhos Semanal], garantindo a Eisner que seu personagem fizesse parte da vida de milhões de leitores.
           
Quando The Spirit surge o foco está voltado para os heróis que salvavam o mundo de vilões risíveis, vestidos em fantasias coloridas. Eisner que nunca foi um grande fã de esculpir músculos gigantescos em homens vestidos em malhas apertadas, queria algo diferente. Um personagem totalmente humano, sem superpoderes e que não usasse nem mesmo armas, sua única artimanha seria seu senso apurado de investigação e sua inteligência. Mas Spirit era mais que isso, era um detetive falível, um tanto palhaço, porém forte e bonitão.

Sua origem se dá quando o detetive Denny Colt ao invadir o laboratório do cientista vilão Dr. Cobra, é soterrado por um líquido estranho. Denny Colt é declarado morto e enterrado no cemitério da cidade, porém desperta e escava até sair do túmulo – que se tornará seu esconderijo. Spirit, agora um homem à margem da lei, sempre cruzaria o caminho do Comissário Dolan, agente de polícia, e de alguma forma sempre encontraria Ellen, a filha do Comissário, uma loira bonitona que seria seu par romântico.

Não sei ao certo como foi a publicação de The Spirit no Brasil – ao que parece ele não foi publicado sistematicamente. Consegui, por vias escusas, uma edição comemorativa de 50 anos do personagem, publicada pela Editora Abril, em 1990, que dá apenas para ter leve sensação do que era acompanhar o personagem, pois são seleções de histórias, o que faz com que a linearidade das tramas se perca. Foi estranho ler essa revista, porque é como se eu quase pudesse tocar no personagem, mas no fim, ele me escapa. E o que escapa é justamente a evolução da personalidade do Spirit, a grande chave da criação de Eisner, que levou alguns jornalistas a apontarem em The Spirit a presença de Cidadão Kane, de Orson Welles.

Nos Estados Unidos, porém, The Spirit foi republicado várias vezes e em diferentes épocas, o que acabou gerando certo problema a Eisner por conta do personagem Ébano Branco, o ajudante e motorista de Spirit. Era década de 60, o país imerso na guerra do Vietnã, e com vários movimentos sociais pipocando por todos os lados. Não demorou para que o personagem negro, baixinho, engraçado, caricato e ainda por cima chamado Ébano Branco soasse estranho à olhos e ouvidos sensibilizados. Eisner várias vezes explicou a construção do personagem e sua importância nas histórias, mas esse, ao que parece, se tornou um ponto delicado na trajetória de The Spirit – uma trajetória que me interessa acompanhar com mais minúcia.

11 comentários:

  1. Olá!
    Obrigado pela visita ao meu blog, o Loucamente Louca Mente ^^
    Spirit é muito bom, nada se compara a porcaria que foi o filme...
    Abraços! \o/

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    1. Oi Fabricio, já ouvi tantas coisas sobre esse filme, que ainda não tive coragem de ver, rs.

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  2. Maira, dizem que não se pode ser um conhecedor de quadrinhos "cult" que se preze sem ter lido Eisner, e acho que é verdade rs

    Comprei a trilogia The Contract with God dele, numa edição primorosa, por sinal. Ainda está na lista de leituras, mas sinto que vai fazer um estrago imenso em mim, justamente por ser tão humana.

    Minha impressão é de que ela já se exime completamente desse "perfume" de super herói que The Spirit tem, como você descreveu. Não que esteja apontando isso como algo necessariamente superior, mas talvez demonstre mais maturidade da parte dele como artista.

    Parabéns pelo blog! Abraço! ;*

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    1. Jéssica, li "Um contrato com Deus" e gostei muito. Espero que goste também.
      bjs

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  3. Estou adorando seus posts sobre quadrinhos!
    Nunca li nada do Spirit, nem sabia desse pouco caso com suas histórias no Brasil. Parece ser um personagem interessante, justamente por ser um cara comum.
    Do Eisner, vi uma peça adaptada de uma de suas histórias, inclusive com o cenário no mesmo estilo e tudo. Foi uma ótima experiência!
    bjo

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    1. Essa peça deve ter sido incrível!
      Pois é, Michelle, não sei bem como ficou essa publicação no Brasil, ao que parece a Abril chegou a publicar alguns números mas não sei por quanto tempo.
      bjs

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  4. Ué, Maira, jurava que eu já tinha comentado esse post seu! rs
    Eu gosto muito de Eisner, li muita coisa dele emprestada nos anos 90 mas acho que não devo ter nada dele aqui. Mesmo assim nunca li Spirit pra valer, só assim de folhear, sabe? Mas um dia quero conferir com mais atenção. Um contrato com Deus acho que é o meu preferido. Ah, em breve vou ler o Risíveis Amores, te aviso quando começar! Bj!

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    1. Lua! Li "Um contrato com Deus" mas ainda não escrevi o texto. Bom, quanto a "Risíveis Amores" estou a postos!
      beijo grande!

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  5. maira, eu me pergunto como não conhecia teu blog. simplesmente é um prazer visitar teu espaço e ler os teus textos. :)

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  6. Gostei da postagem, Maira.
    Nunca havia lido nada sobre The Spirit e nem li, será que alguma editora publicou tudo aqui?

    Continue com suas ótimas postagens, flor!

    Beigos!

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