Adoro o fim do ano, não tanto pelo Natal, mas pela ideia que
o final do ano carrega: a possibilidade de um novo começo, de fazer algo
diferente e criar novos planos e fazer mais, mais, mais coisas da vida.
Eu amo o final do ano.
Mas esse final de ano me pregou uma peça. Um problema antigo
de espaço explodiu na cara de todos aqui em casa e, vendo que todos estavam
repensando suas vidas e suas coisas, achei por bem descer do meu pedestal de
vidro e repensar a minha. E onde isso me levou? Aos livros. Aos milhares,
bilhares e trilhares de livros: não lidos, comprados no impulso, comprados por
estarem “com um preço ótimo”.
Sei que nessa época do ano muitas pessoas repensam essa
questão. A Denise, falou sobre isso no início desse vídeo, a Cláudia fala do
balanço que está fazendo no início deste e a Michelle, divide conosco seu drama
aqui nesse texto. Quero unir minha voz à delas e do mundo inteiro, he he.
Não. Quero apenas ser mais consciente.
Estou aqui, no meio do quarto olhando para todos os meus
livros espalhados pelo chão e...eu poderia contar a história da minha vida a
partir de cada um desses livros. Os livros de quando eu queria me tornar
musicista clássica; os livros do primeiro ano de faculdade, quando acreditava
que tinha que saber TUDO de História;
os livros de Teoria e Crítica Literária, quando minha trilha intelectual
começou a ser desenhada; os livros de quando quis estudar fotografia; os livros
sobre cinema, da fase cineclubista; os livros de Teoria da Arte, fase triste da
vida, mas com livros lindos; os livros da fase obsessiva por Raul Seixas; os
livros de um ex-namorado (são considerados espólios de guerra, e não devolverei
jamais).
Livros são lindos, livros refletem os sonhos, os desejos e a
realidade de uma pessoa.
Mas existem livros que não são ecos e que não estão vivos:
os livros não lidos.
Eles estão me encarando agora.
Alguns eu leio a contracapa e me espanto com o quanto é
interessante e com o quando “eu quero ler isso agora” – e com o quanto eu não
tinha ideia de tê-los na estante. Livros mortos.
Outros eu me pego coçando o queixo e pensando: mas porque
exatamente eu comprei isso? Aí eu lembro: “Ah, foi 10 reais”.
E agora estou pensando na minha pasta intitulada “Biblioteca
Kindle”, repleta e abarrotada de coisas, coisas lindas, coisas até selecionadas
de forma mais consciente, mas ainda assim, coisas que refletem o espírito do
“eu quero”.
E eu quero ser uma pessoa um pouco mais diferente em 2014 – generosidade para consigo mesma,
he he, importante lição. Por isso, do meio do caos, vou começar um projeto
chamado “Fada dos Livros”, semelhante à “fada dos dentes” que deixa uma
moedinha no lugar do dente que caiu, para cada etapa de livros lidos ou doados,
vou me dar um livro que quero muito e que fará mais sentido na minha vida.
Livros vivos.
Que fique claro para todos que: não vou deixar de comprar
livros. O projeto é apenas algo simbólico, para marcar um novo tempo. Para
simbolizar o autoconhecimento e um consumo mais consciente.
Mas no fim, tudo o que eu quero é uma estante viva.
Ah, só uma coisa:
Não vou me obrigar a ler livros que não quero ler no
momento. Acho a literatura sagrada, e ela deve ser lida por vontade. Se não
quero ler um livro agora, não vou ler.
Se é algo importante e que um dia vou realmente querer ler, vou guardar.
Fase 1: Leituras
E se Obama fosse africano, Mia Couto
Esse talvez seja o caso menos grave, porém muito
sintomático. Meus e-books estão todos parados, mas continuo no meu mantra
psicótico “eu quero, eu quero, eu quero” quando vejo algo interessante. Nada
contra montar uma biblioteca de livros interessantes, mas a ideia é que um dia
eles sejam lidos, certo produção? E estou maravilhada com o Sr. Mia Couto (já
comecei a leitura). Esse é de conferencias, e elas são simplesmente lindas e
profundas. Estou amando.
+
Jogos de Armar, Emil
de Castro
Acho que foi o livro que mais me chocou dessa fase. A capa
não me era estranha, mas não tinha ideia do que se tratava. Fui ler a
contracapa. Aí lembrei, foi minha mãe que me deu, em um dia em que ela foi a
uma feira de livros. Na época eu tinha um cineclube e ela trouxe por ser um
livro sobre cinema. Eu nunca li o livro. Todo o carinho e o cuidado de escolher
um livro que eu fosse gostar ficaram naquelas páginas fechadas. E o livro é
incrível, fala da vida de Mário Peixoto, o cineasta de Limite – ele tinha 22 anos quando fez o filme, depois abandonou o
cinema, se dedicou a escrever, mas quase não foi publicado, manteve amizade com
vários escritores e artistas brasileiros e se exilou em um sítio (!). Fiquei
muito empolgada em ler o livro e em procurar o filme, e zás, zás, zás (imita o
Chaves!)
+
8x fotografia, Lilia Moritz Schwarcz, Lorenzo Mammi (org)
Adoro fotografia e passei por um momento em que quis estudar
mais o assunto (até ganhei um prêmio por uma foto meio torta, meio desfocada e
totalmente aleatória, porém, muito “artística”, he he). A questão é que, como
toda compulsiva, comprei milhares de livros sobre o assunto. Alguns eu li, é
verdade, mas outros não. E eu ainda gosto muito de fotografia, e quero ler
algumas das coisas que comprei, pasmem, em 2008(!). Esse é um deles. É muito
legal, são artigos sobre fotos ou fotógrafos importantes para a história da
fotografia. Tô empolgadaça também!
+
Café-da-manhã dos
campeõs, Kurt Vonnegut
Eu tenho um problema, não consigo ir a uma feira de livro
sem comprar alguma coisa, qualquer coisa.
Tudo bem que Vonnegut não é “qualquer coisa”, mas foi nesse espírito que
comprei esse livro. Vi as milhares de indicações na capa e contracapa, somadas
aos desenhos malucos do autor e imaginei que era o meu tipo de livro. E eu nunca descobri se era, na verdade eu tinha
esquecido que tinha o livro.
=
Frenesi Polissilábico,
Nick Hornby
Quando concluir a fase 1, vou comprar esse livro. Há anos eu
dramaticamente desejo esse livro, mas ele sempre acaba saindo da minha cesta de
compra pela razão demoníaca de não o considerar tão importante quanto outros
livros que quero no momento. E, diabos, eu quero ler “Frenesi Polissilábico”!!!
Maira, que postagem incrível! Lindo texto! Como temos coisas em comum, eu também sou louca assim como você, cheia de fases, também já tive cineclub e também já fui estudante de música clássica (violoncelo). Adorei o seu projeto, tenho que falar das minhas expectativas para o próximo ano também lá no meu blog. Beijinho!!! ;-)
ResponderExcluirJura, Lua? Eu estudei violão clássico.
ExcluirAnsiosa para saber suas expectativas para 2014!
bjs!
Não sei como cheguei nesse blog, só sei que estou completamente encantada e o caminho valeu a pena! Tinha lido alguns posts mais antigos (mas fiz a tímida e não comentei), mas este me fez largar a timidez. Maira, que coisa mais linda esse texto! Encontrei a mim mesma aqui e não quero mais ir embora! hahaha
ResponderExcluir2013 foi tão bom e no finalzinho ainda conheço um blog tão lindo como o seu... Fico até sem palavras. Mas fiquei uma sem palavras feliz :D
Oh, Taciele, obrigada. Fiquei muito feliz agora :)
ExcluirQue bom que gostou, faz tempo que penso nessas questões e precisava colocar para fora, rs
beijo grande,
Impossível não me identificar com seu texto, Maira. Acho que todos aqueles que, como nós, amam os livros (qualquer livro), passam por uma fase dessas de susto ao notar o tanto de coisa que tem em casa e de tristeza ao perceber que jamais lerá tudo. Enfim... adorei seu projeto e vou acompanhar e torcer por você!
ResponderExcluirbjo
Michelle, torça! Vou me esforçar para cumprir minhas promessas.
ExcluirE sabe o que notei? Já estou olhando para minha estante com outros olhos. Estou me re-apaixonando por meus livros, e diminuiu aquela loucura de "comprar, comprar, comprar". Vamos ver se dura, Ahahahahaha ;)
bjão!
Zás, zás, zás, que texto lindo e inspirador! Muito interessante e facilmente identificável a sua reflexão. Do lado de cá, os livros mortos também me encaram. Achei criativa a sua meta / projeto, pois ela uni o útil ao agradável ;)
ResponderExcluir“Ah, só uma coisa:
Não vou me obrigar a ler livros que não quero ler no momento. Acho a literatura sagrada, e ela deve ser lida por vontade. Se não quero ler um livro agora, não vou ler.
Se é algo importante e que um dia vou realmente querer ler, vou guardar.”
Idem! ^_^ *toca aqui o/ rs*
Beijos, Maira! <3
P.S.: HAUHAUHAUHAU! Parabéns pelo prêmio de fotografia!
"Do lado de cá" - foi alguma referência velada ao nosso lindo e amado Cortázar, dona Lulu? <3 <3
ExcluirObrigada, linda, fiquei feliz que gostou.
E aquela era uma fotografia muito torta, por isso, muito artística! huahuahua ;)
Pra ser sincera nem me toquei >_< Amarelinha ainda está na minha mente e coração, rs. Lindo e amado Cortázar <3 *suspiro* Bjs, Maira!
ExcluirAi, Maira, nem sei o que comento... Bom, achei o projeto lindão e super me identifiquei, nas últimas semanas venho percebendo quantos livros 'mortos' me observam da estante, alguns comprei por impulso e já disse que não sei quando os lerei... E dói isso! Estou calando vozes.
ResponderExcluirEsse ano comecei a doar livros que havia lido e gostado, mas sabia que não iria reler e alguns que sabia que nunca leria, e nossa é bom saber que esses livros que estavam mortos em minha casa terão vida nas mãos de outras pessoas.
Um projetinho que tenho para 2014 é o "Book Jar", que vi no instagram. Anotei os títulos de livros que tenho em casa e coloquei num pote, todo mês vou ler um livro que tirar dele... Adorei esse trecho: "Não vou me obrigar a ler livros que não quero ler no momento. Acho a literatura sagrada, e ela deve ser lida por vontade. Se não quero ler um livro agora, não vou ler.
Se é algo importante e que um dia vou realmente querer ler, vou guardar.” e pensei logo no meu projetinho, alguns livros que tirar de lá, com certeza, não vou estar com cabeça para ler e não vou me obrigar por que tornar algo que deve ser prazeroso em obrigatório não é comigo.
Bom...
Maira, te desejo um ótimo Projeto Fada dos Livros e ótimas leituras :D
Beijos
Maura, penso nisso também. Quero muito que esses livros tenham vida nas mãos de outras pessoas - vou doar para biblioteca pública.
ExcluirSeu "Book Jar" é um projetão!! boa sorte e ótimas leituras para você também!
bjo!
Oi Maira!
ResponderExcluirAcabei de falar pra Lulu (que me indicou seu post) que tomei coragem e fiz a lista dos meus não lidos físicos (porque os do Kindle eu nem atrevo) e já são 62! Meu superego grita cada vez que compro um livro novo.
Mas também coloquei como meta priorizar a leitura dos que já tenho, espero conseguir rsrsrs...
Parabéns pela decisão :)
Abraço e bom final de semana procê.